Posicionamento dos pés na infância, quando se preocupar?

Muitas são as condições consideradas comuns nas crianças quando se fala em pé. Do nascimento até os primeiros passos e desenvolvimento motor, parte das situações vai sendo corrigida naturalmente, sem a necessidade de interações médicas. Quem explica é a ortopedista pediátrica Dra. Adriana Pazin.

Dentre as dúvidas frequentes dos pais está o pé plano, quando o pé não tem a curva, também conhecido como é chato. “A maioria dos bebês nasce com os pés planos e isso não deve causar preocupação porque é uma condição transitória. Conforme vão crescendo, os arcos dos pés vão se desenvolvendo. O pé plano acontece por conta da flacidez muscular e ligamentar que são normais da criança nesta fase inicial”, diz a especialista. Ela completa que há casos em que a curvatura nunca se desenvolve por completo. “O importante é acompanhar o desenvolvimento da criança e consultar o especialista caso haja dúvida. O arco se forma só aos 5 ou 6 anos de vida. Para um desenvolvimento saudável, a orientação é que as crianças andem descalças e que, quando usarem sapatos, que sejam adequados para a idade”, salienta Dra. Adriana.

O pé torto é outra situação que causa preocupação. Ele é uma má-formação que acontece ainda na fase fetal e faz com que os bebês nasçam com um ou os dois pés voltados para dentro. “Esta condição precisa ser tratada para que o bebê evolua e possa ter um desenvolvimento normal dos pés. Geralmente o pé torto é diagnosticado logo ao nascer ou antes, em exames de ultrassom. O mais importante é começar o tratamento logo nas primeiras semanas de vida, pois isso eleva as chances de cura”, explica a ortopedista.

A incidência desta má-formação é alta, 1 caso a cada mil nascimentos, sendo mais comum em meninos. O diagnóstico é clínico, não havendo necessidade de exames de imagem, como o raio x.

O tratamento pode ser tanto conservador como cirúrgico. “Inicialmente o mais usual é que se faça o Método Ponseti onde manipulamos os pés e pernas e após isso colocamos gesso buscando o realinhamento das estruturas dos pés. Isso precisa ser feito semanalmente com troca do gesso e dura entre 5 e 8 semanas, dependendo da evolução do caso”, diz a ortopedista. Ao final desta fase, é feito um pequeno procedimento no tendão de Aquiles, obtendo-se o seu alongamento para a correção final da deformidade. Quando o método não obtém o resultado esperado, há a opção da cirurgia. “Mas ela é pouco realizada atualmente”, pontua Dra. Adriana.

O uso de órteses de Dennis Browne (aquelas botinhas ligadas por barra metálica) para auxiliar no processo de correção faz parte do tratamento, assim como fisioterapia para o fortalecimento dos músculos. “As órteses são usadas por um período maior, até três ou quatro anos de vida, e vão orientar o crescimento correto dos pés e estruturas ligadas a ele. Nos primeiros três meses a órtese é usada de forma contínua (23hs/dia). Depois ela é mantida até os três ou quatro anos por 12 a 14 horas por dia. Quando o bebê é tratado de maneira correta, tem resultados funcionais próximos ao normal. O alerta que fazemos é que o tratamento precisa começar prontamente, é imprescindível seguir a orientação médica e usar corretamente a órtese pelo tempo recomendado. Com isso, a criança poderá ter os pés corrigidos e poderá andar e fazer atividades físicas sem dificuldades”, diz a ortopedista da Uniort.e.

Ter os pés voltados para fora e andar na ponta dos pés são outros temas de dúvidas. “Em geral os pés mais abertos são uma condição genética. A não ser que eles provoquem dor, não precisam de tratamento”, diz. O andar na ponta dos pés, chamado pé de bailarina, também é comum nos primeiros anos de vida. “Isto está ligado à coordenação motora da criança que ainda está em desenvolvimento. Na grande maioria dos casos, este andar evolui espontaneamente e a criança passa a andar com o pé todo apoiado ao chão. É importante reduzir o estresse na criança que está começando a andar, por isso orientamos os pais que não repreendam nem tentem fazer com que a criança ande com os pés todos apoiados nesta fase. Ela vai andar corretamente com o desenvolvimento fino da coordenação motora e do sistema nervoso central”, explica.

Em caso de dúvida, os pais podem procurar um especialista para avaliação de qualquer uma destas alterações dos pés.