Na infância, exercício também é brincadeira

Não é novidade que a prática de exercícios físicos pode e deve ser iniciada na infância. Isso vai garantir não só um melhor desenvolvimento, mas também faz com que as crianças criem o hábito e o interesse pela atividade física. Pois é bem provável, segundo alguns especialistas em Medicina do Esporte, que uma criança fisicamente ativa se torne um adulto também ativo. Porém, existem algumas particularidades. Além de oferecer diferentes opções para a prática de esportes, é importante contemplar os interesses de cada criança, assim como suas limitações. 

Essa questão não é nova, porém ganhou destaque nas últimas semanas com a blogueira fitness de 9 anos, moradora de Goiânia (GO). A garotinha alimentava um perfil nas redes sociais, executando séries de exercícios funcionais sob a orientação do pai que é personal trainner. 

Os pais relataram em entrevistas, que a vontade de malhar surgiu da própria filha. O assunto teve muita repercussão entre os internautas, que consideraram o caso como um exagero, abordando a questão da exposição e adultização. 

Para Tadeu Fernando Fernandes, presidente do Departamento de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o caso da blogueira infantil, amplamente divulgado na mídia, serve como um alerta. 

“Crianças são crianças. Elas têm que praticar atividades físicas compatíveis com seus marcos de desenvolvimento neuropsicomotor. Elas precisam brincar ao ar livre, através de brincadeiras lúdicas, que além de úteis para o corpo, são benéficas para a higiene mental”, afirma. 

A psicóloga clínica Elsie Silva, que atende crianças, adolescentes e adultos em Londrina, observa que cultuar o belo, o corpo, é um valor muito diferente da infância. “A criança tem as responsabilidades dela, como os estudos, mas a hora do lazer e do exercitar tem que ser prazerosa e lúdica. A musculação com o objetivo estético é coisa de adulto e quando envolve crianças é bastante preocupante porque, desde pequenas, elas começam a se confrontar com a realidade e não gostar do que estão vendo”, declara. 

CUIDADOS

A ortopedista pediátrica Adriana Pazin ressalta que a musculação na infância pode ser praticada desde que atenda uma série de cuidados. O grande problema, segundo ela, é que a sobrecarga pode provocar uma lesão da cartilagem de crescimento. 

“A criança pode praticar desde que supervisionada e sem sobrecarga. Ela não têm altura para os aparelhos e certamente fará os movimentos errados. O que se pode trabalhar é em cima de repetições, utilizando o peso do próprio corpo”, comenta. 

Adriana explica que tanto as meninas quanto os meninos, entre 8 e 10 anos, ainda não entraram em maturação óssea. “Se você entrar com uma atividade física intensa nessa idade, pode provocar um desequilíbrio hormonal. A alteração não é só óssea, mas também sistêmica”, observa. 

Por toda essa cautela, muitos especialistas optam em não recomendar a musculação, até porque o objetivo do trabalho físico na criança é adaptar o corpo, desenvolver a coordenação e também fazê-la adquirir o hábito de praticar exercícios. Para isso, ela deve fazer algo que seja agradável para si mesma.

Micaela Orikasa
Reportagem Local