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ARTIGO: Impacto Fermoroacetabular

Por Rafael Leite Tavares, especialista em quadril  

A busca da estética corporal e da vida saudável faz crescer a cada dia o número de praticantes de atividades físicas. Somado a isso, há a busca pelo desempenho cada vez melhor, o que tem feito crescer o número de afecções do quadril relacionadas ao esporte. Atletas amadores ou profissionais são submetidos a grandes esforços que podem afetar suas articulações, tornando-as propícias às lesões. Em consequência desta conduta esportiva, os choques e traumas são cada vez mais frequentes nas estruturas esqueléticas, aumentando o risco de contusões e lesões articulares. 

A principal causa de dor no quadril em atletas é a lesão do lábio acetabular, tanto por causas traumáticas agudas quanto, muito mais frequentemente, por mecanismos complexos não totalmente elucidados. O impacto femoroacetabular (IFA) é uma dessas causas e vem ganhando importância como a principal causa de lesão do lábio acetabular.

Quanto à localização das lesões, há maior acometimento dos membros inferiores, achado que é provavelmente explicado pelo fato de ser o futebol o esporte mais praticado no nosso meio. O mecanismo da lesão pode ser devido ao trauma direto ou aos esforços repetitivos. 

Os procedimentos artroscópicos (por vídeo) têm sido indicados para o tratamento dessas lesões, com recuperação satisfatória a ponto de permitir o retorno ao esporte. 

O impacto femoroacetabular (IFA) só recentemente foi descrito também como comprovada causa da osteoartrose do quadril. A base teórica da correlação entre deformidades ósseas e lesões articulares com consequente desgaste da cartilagem articular é investigada e modelos de computação gráfica validam esta teoria. Alterações na mobilidade pélvica repercutem na biomecânica do quadril do paciente com IFA e podem ser evidenciadas no momento da cirurgia. 

O impacto femoroacetabular afeta principalmente adultos na segunda e terceira décadas da vida, ativos, que tipicamente apresentam dor no quadril e região inguinal (virilha), sem história de trauma precipitante. É característico o sinal em “C”: o paciente demonstra a localização da dor em torno do quadril, fazendo um “C” com a mão e agarrando o quadril comprometido.  A dor é exacerbada com atividade física e quando os pacientes permanecem sentados por longos períodos. Eles apresentam algum grau de restrição da mobilidade do quadril, principalmente em flexão, rotação interna e adução. Esta posição ocorre com frequência no dia a dia ao subir e descer escadas, ao entrar e sair do carro, entre outros.

É importante citar que pessoas assintomáticas (sem dor) cujo quadril seja dismórfico podem, sem conhecimento, prejudicar-se por nova lesão ou piora de uma lesão preexistente no quadril após a realização deste tipo de exercício. Segundo os mecanismos e os padrões das lesões condrais e labrais, podemos dividir o IFA em dois tipos principais: came e pincer. As lesões ocorrem pela entrada forçada de uma porção não esférica da cabeça femoral no acetábulo, especialmente durante a flexão. A abrasão ocorre de fora para dentro na porção ântero-superior da cartilagem acetabular, podendo resultar na avulsão do labrum e do osso subcondral.

 Isso promoverá a propulsão da cabeça femoral posterior e inferiormente. O termo came ou cam provém da mecânica e está relacionado à transformação de um movimento circular em um linear, graças à presença de saliências ou reentrâncias, como no virabrequim de motor. É mais comum em homens, entre a segunda e terceira décadas, que mantêm atividades físicas regulares. Foi descrito em casos de consolidação viciosa de fratura do colo do fêmur, epifisiólise femoral proximal e doença de Legg-Calvé-Perthes. 

O tipo pincer ocorre como um contato linear entre a margem acetabular e a junção cervicocefálica.  A repetição leva à degeneração do labrum, formação de ganglion intra-substância, ossificação da margem acetabular e aprofundamento do acetábulo. O impacto deve-se basicamente a anormalidades acetabulares, como na protrusão ou na retroversão. As lesões condrais são circunferenciais. São mais comuns em mulheres após a terceira ou quarta décadas. Raramente esses dois tipos ocorrem isoladamente, sendo mais comum a sua combinação. 

As opções de tratamento do impacto incluem: o tratamento conservador, a osteocondroplastia femoral e acetabular, a artroscopia e a osteotomia periacetabular. O tratamento inicial mais apropriado desses pacientes consiste na modificação das atividades físicas, em evitar excessivos movimentos da articulação e na utilização de antiinflamatórios. Fisioterapia para melhorar a amplitude de movimento não traz benefícios e ainda pode piorar o quadro clínico. O tratamento conservador pode trazer alívio apenas temporário em alguns pacientes.

A persistência dos sintomas e a presença de lesões labrais ou condrais podem ser indicações de tratamento cirúrgico. Este tem como objetivo principal facilitar a amplitude de movimentos do quadril por meio da diminuição do impacto entre o fêmur e a borda do acetábulo. 

A cirurgia artroscópica pode ser realizada com o paciente em decúbito lateral ou supino. Há a necessidade de mesa de tração e de intensificador de imagens. A cirurgia artroscópica permite o exame dos compartimentos central e periférico.  

O compartimento central inclui o labrum e as estruturas localizadas medialmente, enquanto o periférico abrange as estruturas laterais ao labrum e intracapsulares, incluindo a cabeça femoral, o colo e cápsula (40). A artroscopia permite realizar o desbridamento de lesões labrais e da cartilagem(52) e facilita a técnica de microfraturas para áreas com exposição do osso subcondral. Após artroscopia do compartimento central libera-se a tração para avaliação do periférico. Nenhum exame de imagem, incluindo a artrorressonância com melhoramentos na técnica e instrumentação tornaram a artroscopia do quadril um meio efetivo de diagnosticar e tratar uma variedade de problemas intra e extra-articulares. 

O tratamento cirúrgico do impacto femoroacetabular apresenta bons resultados em pacientes com alterações degenerativas precoces do quadril. Estudos em longo prazo são necessários para determinar quando tais tratamentos previnem a progressão da osteoartrose do quadril

 

Bibliografia:

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